Turbo ou aspirado, eis a questão
Saiba escolher o tipo de preparação mais
adequado a suas necessidades
Insatisfeitos com o desempenho de seus veículos, muitos proprietários têm procurado soluções para melhorá-lo. Desde o simples aumento do torque disponível em baixas e médias rotações até receitas capazes de mudar radicalmente a personalidade do veículo, tornando-o um verdadeiro bólido. Em muitos casos, principalmente em veículos mais antigos, a preparação pode visar o melhor aproveitamento de um motor através de recursos não disponíveis em sua época de fabricação, como o aumento da taxa de compressão, visando a tirar melhor proveito da qualidade do combustível disponível atualmente. Existem preparações e recursos disponíveis para todos os gostos e anseios.
Um comando com maior duração de abertura e levantamento das válvulas é em geral a primeira providência na preparação aspirada
O método a ser utilizado deve ser escolhido de acordo com o resultado desejado pelo proprietário — e de quanto se pretende gastar na preparação. Entre os métodos mais utilizados estão a preparação aspirada e a preparação turbo. Existem outros tipos de compressores, como os acionados por correia acoplada ao virabrequim, mas estes não são muito utilizados no Brasil pelo maior custo. Só agora sua utilização tem sido mais frequente, em pickups importados com motores V6 e V8 de grande cilindrada.
A preparação aspirada consiste em aumentar a capacidade de admissão de mistura ar-combustível de um motor atmosférico (sem compressor), através do aumento da área de passagem ou do tempo de admissão do ar a ser utilizado na queima de combustível. Utilizam-se para isto carburador(es) maior(es), filtro de ar de maior vazão, coletor de admissão que facilitem a admissão de mistura (coletores de geometria variável são muito utilizados pelas fábricas), além de alterar o levantamento e o tempo de abertura das válvulas através de um comando de perfil mais agressivo. O uso de válvulas maiores, além de molas de maior pressão que evitam flutuação em altas rotações, é muito apreciado na preparação aspirada. O aumento da taxa de compressão é benéfico, tanto no que diz respeito ao aumento do torque disponível quanto no consumo e emissão de poluentes.
Carburador maior otimiza a alimentação; molas especiais
evitam a flutuação das válvulas em altos regimes
evitam a flutuação das válvulas em altos regimes
A preparação aspirada tem custo inferior à preparação turbo quando o aumento na potência é de até 30%. Mas não existem só vantagens: de acordo com os componentes adotados pode ocorrer perda de torque em baixa rotação, e nos casos mais extremos a marcha-lenta é prejudicada. A escolha dos componentes deve ser feita com critério para não afetar a dirigibilidade no trânsito se a intenção for preparar um motor para uso em rua. Já no caso de uso em pista, o torque em baixas rotações e a marcha-lenta estável perdem importância. Nos motores de baixa cilindrada é recomendável o aumento da taxa de compressão até o limite permitido pelo combustível, além do uso de comando de válvulas com perfil não muito agressivo (levantamento e tempo de abertura moderados) e carburador com venturi de medida favorável ao torque em médias e baixas rotações.
Os mais beneficiados por uma preparação aspirada pesada são os motores de alta cilindrada e baixa potência específica, como os antigos seis-cilindros e V8, pois dispõem de alto torque e não sofrem com comando de válvulas de maior tempo de abertura e levantamento. Em alguns casos a perda de torque nem chega a ser sentida.
A preparação turbo consiste no uso de um turbocompressor ligado à saída dos gases de escapamento. Este compressor é dividido em duas partes. A parte quente, acionada pelos gases do escapamento resultantes da combustão, aciona a parte fria da turbina, que comprime a mistura ar-combustível, fazendo com que esta preencha melhor os cilindros, gerando mais pressão sobre os mesmos e consequentemente maior potência. Aproveita-se assim a energia térmica e cinética que normalmente seria desperdiçada no escapamento.
As vantagens da preparação turbo ficam por conta do aumento do torque disponível (na aspirada o torque diminui na maior parte dos casos) e do grande aumento de potência produzido pelo turbo. Mas vale ressaltar que a preparação turbo só é economicamente viável quando a pressão utilizada for maior que 0,4 kg/cm². Com pressões menores o aumento de potência não é tão satisfatório e a relação custo-benefício da preparação aspirada seria melhor.
Outra vantagem do turbo é que torque e potência máximos são obtidos em regimes próximos aos do motor original, ao contrário da preparação aspirada. Nesta, o torque máximo é obtido em rotação mais elevada e a potência é, em muitos casos, obtida em regime acima do limite de giros do motor original (o comando de válvulas mais “bravo” permite que o motor trabalhe em rotações mais altas). O motor aspirado precisa girar mais para admitir maior quantidade de mistura em um determinado período de tempo, gerando mais potência. No turbo a sobrepressão faz este papel, por isso o motor não precisa atingir rotações mais elevadas.
A preparação turbo é indicada principalmente em motores de baixa cilindrada, como os de 1.000 cm3, pois eleva o torque disponível em praticamente todos os regimes, desde que a turbina utilizada tenha sido corretamente escolhida para este fim. Turbinas muito grandes fazem com que seu funcionamento efetivo seja sentido em rotações mais altas, enquanto as menores entram em ação mais cedo: neste caso o motor se comporta como se tivesse maior cilindrada, sobretudo por causa do torque disponível em baixos giros.
Turbina de pequenas dimensões e baixa inércia, providência importante para respostas rápidas em baixa rotação
Neste ponto, muitos já devem estar se perguntando: é possível combinar ambas as técnicas de preparação? A resposta é sim! Atualmente é muito comum a troca do comando de válvulas em um motor turbo por outro com levantamento e tempo de abertura um pouco maiores, aproveitando a facilidade com que a turbina comprime a mistura dentro dos cilindros, aumentando ainda mais a potência e mantendo bom torque em baixos giros. Várias outras combinações são possíveis, como o uso de carburador maior em motor turbo (ou corpo de borboletas de maior diâmetro, em um carro com injeção), para melhorar a alimentação do motor em rotações mais elevadas.
Uma turbina pequena pode ser instalada em um carro com motor multiválvula para compensar seu baixo rendimento em rotações mais baixas, mas para tanto será necessária uma turbina de baixíssima inércia (como a usada no Golf, Passat e Audi 20V turbo). Ela deixará o carro com reações mais rápidas e comportamento mais uniforme, além de aumentar a quantidade de mistura nos cilindros nas altas rotações, que já é excelente neste tipo de motor aspirado.
Tudo depende da criatividade do preparador e do objetivo da preparação. Não existe limite: as técnicas de preparação aspirada podem ser combinadas com as de preparação turbo, resultando em torque abundante em baixos giros e ótimo rendimento em altas rotações. Em síntese, um motor elástico e com força em qualquer rotação — o que todos desejam, nas ruas ou nas pistas.
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